Trilhas da Cobertura Climática debate construção de narrativas sobre a COP da Amazônia
- Mayra Leal
- 8 de mai.
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As construções de narrativas sobre a Amazônia e sobre a COP 30 foram o assunto da primeira atividade da etapa presencial do Trilhas da Cobertura Climática. A formação gratuita realizada pelo Instituto Bem da Amazônia (IBA) voltada para comunicadores está ocorrendo na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), em Belém, nos dias 8 e 9 de maio. A programação é composta por painéis com mais de 40 especialistas de todo o país, oficinas e rodas de conversa. Quem não se inscreveu previamente, pode fazer a inscrição presencialmente durante o evento.
O Trilhas da Cobertura Climática iniciou com mensagem especial da Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, aos comunicadores da Amazônia. A ministra falou sobre os eventos climáticos extremos e a importância de promover informação qualificada e acessível. “Poder levar a informação de diferentes maneiras, para que elas se tornem acessíveis para todos é muito importante. O trabalho feito pelos jornalistas cumpre um papel pedagógico e político”, afirmou Marina Silva.
Com o tema “A COP na Amazônia brasileira e as construções de narrativas que a apresentam ao mundo”, o primeiro painel foi mediado pela sócia-diretora da Temple e Conselheira do Instituto Bem da Amazônia, Mirtes Morbach, que instigou sobre como a cobertura climática precisa ir para além da transmissão de tragédias. A Diretora de Comunicação Estratégica para a COP30 no Governo Federal, Raissa Gomes, destacou os desafios de comunicar as mudanças do clima e de tornar acessível os debates trazidos na COP. Para a diretora, o debate sobre a COP da Amazônia não pode ser apenas sobre problemas logísticos e a comunicação sobre o evento precisa ser feita por quem representa o Brasil. “A comunicação é um grande setor viabilizador de decisões, de soluções, de opinião, de criação, de imaginário, de cenários e realidades. Então fica um grande chamado para que a comunicação, a imprensa, para que os jornalistas se sintam integrantes desse mutirão de enfrentamento a mudança do clima e tudo o que isso significa”. Raissa também destacou a necessidade de descolonizar as narrativas. “Uma descolonização do olhar de nós mesmos, dos jornalistas, da comunicação, da imprensa, para que a gente possa mostrar que Belém é uma cidade. Uma coisa que parece tão óbvia, mas que, infelizmente, pelas construções estereotipadas mundo afora, não é”, concluiu.
O representante do Coletivo Ilustra Pretice PA e do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) Emerson Caldas, também compôs o painel e destacou a necessidade de construir narrativas a partir da perspectiva da população negra, rompendo com modelos que reforçam estereótipos e o racismo ambiental. “Precisamos repensar nossas matrizes culturais para pensar o mundo. Existem territórios muito potentes, representações artísticas muito potentes. A Amazônia precisa ser conhecida para além dos estereótipos. E o trabalho da comunicação e do jornalismo pode enriquecer a nossa população”, ressaltou.
A representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a COIAB, Valdeniza Vasques ressaltou a necessidade da preservação das culturas e do direito dos povos indígenas à cultura e à educação. Valdeniza questionou a representação destes povos na grande imprensa e destacou que eles são mais que protetores da floresta, são também agentes de construção da ciência sobre a Amazônia. “Os povos indígenas e quilombolas não são responsáveis pelas crises climáticas, mas são os primeiros a serem atingidos pelos impactos. Não se pode escrever uma história democrática sem incluir as vozes indígenas. E essas vozes precisam ser vistas como autoridades climáticas. Dentro dos territórios há ciência indígena e soluções. Nosso principal objetivo nesse cenário da COP30 é que seja incluída nas NDCs, a demarcação dos territórios indígenas”, ressaltou.
Com vasta experiência em COPs, o Gerente Executivo de Assuntos Ambientais da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Rubens Filho destacou o impacto da conferência nos mais diversos contextos, principalmente para os grupos mais marginalizados. Para Rubens Filho, a COP precisa viver um novo momento mais democrático e implementativo. “A COP 30 precisa romper esse ciclo de discussões sobre problemas. Temos uma oportunidade gigantesca de fazer uma das maiores COPs dos últimos anos e pensar quais serão os impactos dessa COP e da pré COP, pois as negociações vão ocorrer. Agora como vai ocorrer, isso depende da gente”, afirmou.
CEO da Temple e Presidente do Conselho de Governança do IBA, Cleide Pinheiro, explicou que a proposta do Trilhas da Cobertura Climática é construir novas ideias e reforçar o papel transformador da comunicação. “Acreditamos que a comunicação é uma ferramenta poderosa, capaz de transformar, modificar e ser um caminho pro desenvolvimento sustentável. Queremos abrir espaços para falar sobre os desafios da comunicação em um mundo que está sempre em transformação”, destacou.
A etapa presencial do Trilhas da Cobertura Climática tem o patrocínio da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) a partir da Jornada COP+, da Fundação Itaú, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), da Amazon Investor Coalition (AIC). O evento conta ainda com o patrocínio do Programa de Políticas sobre Mudança do Clima do Brasil (PoMuC), uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério Federal de Economia e Ação Climática da Alemanha (BMWK), no âmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI), e implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.
A programação também tem apoio institucional da Temple Comunicação, da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) e Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Ainda é possível participar da programação. Quem não puder assistir presencialmente, poderá acompanhar a transmissão ao vivo pelos canais do Instituto Bem da Amazônia e Jornada COP+.