Após COP 30, indústria do Pará avança na agenda de sustentabilidade
- Mayra Leal
- há 2 horas
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A COP30 deixou como legado uma série de avanços que seguem influenciando o debate climático global e ressaltam o papel estratégico da Amazônia e do setor produtivo na construção de um futuro sustentável. Para a indústria paraense, o evento foi uma oportunidade de apresentar ações sustentáveis do setor produtivo para uma transição justa e a Jornada COP+, movimento multissetorial liderado pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), é um impulsionador desta transformação. A iniciativa permanece como um legado pós-COP30, com diretrizes baseadas no fortalecimento da sociobioeconomia, no combate ao desmatamento e queimadas ilegais e na adoção de um modelo econômico circular que conserve a floresta e gere desenvolvimento social.
Alex Carvalho, presidente da FIEPA e da Jornada COP+, destaca que a conferência reposicionou a região. “O esforço venceu o preconceito. Ao acontecer na Amazônia, a COP trouxe o mundo para a floresta, e fez com que o país repensasse e se reconciliasse com seu próprio território. A COP30 descortinou não apenas nossos desafios, mas também nossas potências, como a bioeconomia, nossa força cultural, recursos naturais, energia limpa, biodiversidade e a inteligência social das nossas comunidades”, afirmou.

Desde maio de 2024, quando foi lançada, a Jornada COP+ já alcançou mais de 30 mil pessoas. Foram mais de 50 ações realizadas - entre capacitações, festivais, webinars, workshops, letramentos, fóruns, encontros de lideranças e exposições - todas com compensação de carbono.
Durante a conferência climática, o movimento apresentou documentos estratégicos, reconheceu práticas industriais sustentáveis, e promoveu articulações institucionais. A indústria paraense entregou recomendações para a descarbonização da economia, lançou um guia de práticas sustentáveis para pequenas e médias empresas, destacou soluções já implementadas no setor e anunciou programas permanentes.
Programas estruturantes para o setor produtivo
O Programa de Combate ao Desmatamento e Queimadas Ilegais, lançado em 2025 e com vigência até 2030, reúne indústrias e agroindústrias em três frentes: diagnóstico das ilegalidades; engajamento dos setores mais sensíveis, como carne, madeira e grãos; e ações diretas de identificação de pontos críticos de desmatamento e queimadas, com encaminhamento das informações às autoridades competentes. “Estamos assumindo o compromisso de identificar irregularidades, apoiar ações de controle e mostrar, com dados, que a produção sustentável é possível e economicamente mais vantajosa. Ao combater o desmatamento, também contribuímos diretamente para reduzir emissões, proteger a Amazônia e fortalecer a competitividade do próprio setor”, explica Francisco Victer, líder do programa.
Já o Programa de Sociobioeconomia, desenvolvido em parceria com o Instituto Bem da Amazônia e o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), pretende fortalecer políticas e negócios que valorizem a floresta em pé e os povos amazônicos. Entre suas ações estão a criação do Observatório da Bioeconomia, o mapeamento de empregos e produção, estudos sobre impactos socioambientais e econômicos, além de uma plataforma georreferenciada para cadeias de valor.
O terceiro programa é o de Economia Circular, responsável por fomentar políticas de logística reversa, gestão de resíduos, capacitação industrial e atuar junto ao poder público. Segundo Deryck Martins, coordenador técnico da Jornada COP+, o programa foi estruturado para funcionar de forma integrada ao ecossistema já existente na Federação. “Queremos fortalecer o que já temos, trabalhar com as demais casas do Sistema FIEPA e os parceiros estratégicos para acelerar a adoção de práticas circulares e construir um modelo sólido de governança”, afirma.
Diretrizes e instrumentos para uma indústria sustentável

Entre os principais legados da Jornada COP+ está o documento “Diretrizes para uma Indústria de Baixo Carbono”, lançado durante a Semana do Clima de Nova York e entregue ao presidente Lula na COP30. O material reúne recomendações estratégicas como o uso sustentável de biomassa de caroço de açaí e cascas de castanha, o fortalecimento da rastreabilidade das cadeias produtivas, a valorização da sociobioeconomia, o protagonismo de mulheres e povos tradicionais, e destaca a necessidade de ampliar infraestrutura regional, inclusão digital, investimentos verdes e a reputação da Amazônia. O documento foi elaborado de forma colaborativa, reunindo 180 pessoas de 30 setores em dez comitês temáticos, resultando em mais de 200 páginas.
A Jornada COP+ também entregou o Guia de Práticas Sustentáveis para a Indústria da Amazônia, voltado a pequenas e médias empresas e alinhado às exigências ambientais contemporâneas. O material apresenta orientações e recomendações para que as empresas entendam o cenário de maior rigor regulatório e as novas oportunidades de negócios verdes.
A indústria amazônica também reconheceu iniciativas inovadoras por meio da Seleção de Cases da Jornada COP+. Os projetos mais relevantes foram apresentados no Fórum de Excelência Industrial Sustentável, e todos os inscritos integram a Vitrine de Cases da Indústria Sustentável, que reúne e divulga boas práticas da região.
Avanços institucionais e integração regional

A COP30 também marcou avanços na articulação entre governos e setor produtivo, união essencial para consolidar um modelo sustentável de desenvolvimento para a Amazônia. As ações da FIEPA contaram com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as programações receberam ministros de Estado e governadores. Na sede da federação, o governador do Pará, Helder Barbalho, ressaltou que o evento ajudou a superar estigmas históricos: “Passamos muito tempo sob desconfiança, quando muitos achavam que não seria possível o Brasil, a partir da Amazônia, realizar um evento dessa grandeza. Belém virou a página da interrogação para a exuberância”.
A conferência também foi palco do lançamento da Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI), do governo federal, que posiciona a descarbonização como motor do desenvolvimento econômico e estreita a cooperação entre o MDIC, a FIEPA e a CNI.
Outro avanço importante foi o fortalecimento da integração da Amazônia Legal. Em parceria com o Consórcio de Governadores da Amazônia Legal e a Ação Pró-Amazônia, a Jornada COP+ promoveu um encontro regional na Federação das Indústrias do Maranhão (FIEMA), resultando na Carta Maranhão. A iniciativa inaugurou uma ampliação do diálogo com os Estados da Amazônia Legal, reforçando convergências estratégicas.

Para Alex Carvalho, o setor produtivo tem papel decisivo nesse novo ciclo para a Amazônia e para o Brasil. “Precisamos fortalecer cadeias produtivas formais, ampliar tecnologia, incorporar rastreabilidade, atrair investimentos, dinamizar a bioeconomia, gerar empregos de qualidade e abrir caminho para uma Amazônia que seja ao mesmo tempo sustentável e próspera”. Segundo Alex, esse processo depende de um esforço coletivo. “Governos, empresas, trabalhadores, universidades, comunidades tradicionais, mulheres, jovens e a sociedade urbana brasileira, que precisa compreender a urgência da mudança”.



