Mudanças do clima, bioeconomia e descarbonização são tema de formação para comunicadores
- Mayra Leal
- 8 de mai.
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Atualizado: 9 de mai.

Nesta quinta-feira, 9 de maio, os participantes do Trilhas da Cobertura Climática, formação realizada pelo Instituto Bem da Amazônia, puderam debater com pesquisadores assuntos necessários para a discussão sobre o clima em 2025. O painel “Bioeconomia na Amazônia: Economia que funciona e os próximos desafios” pelo Presidente da Associação dos Negócios de sócio-bioeconomia da Amazônia (Assobio), Paulo Monteiro, trouxe palestrantes de referência na área.
No painel, a secretária adjunta de bioeconomia do Pará, Camille Bemerguy, apresentou o Plano de Bioeconomia do Estado e destacou que a COP é uma oportunidade para mostrar o potencial desta economia na região. O professor Titular da Universidade no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA – UFPA), Francisco de Assis Costa, refletiu sobre o conceito e sobre como nem toda economia baseada na natureza pode ser considerada bioeconomia.
José Mattos, Head de Assuntos Corporativos da Amazon Investor Coalition, destacou a importância da bioeconomia levar em consideração a ótica e vivência das comunidades. Alan Valadares, Coordenador no Observatório da Fundação Itaú, apresentou o trabalho realizado pela fundação para monitorar e acompanhar a transição econômica para a bioeconomia. Ele também apresentou o Guia de Narrativas das Múltiplas Amazônias, construído em parceria com a Amazônia Vox e que teve distribuição gratuita no evento.
A descarbonização também foi assunto. No painel “Caminhos da transição, descarbonização e outros desafios climáticos”, mediado pela jornalista da TV Liberal Priscilla Castro, especialistas ressaltaram a importância da transição para uma economia de baixo carbono. Isabela Morbach, diretora da CCS e presidente do Instituto Bem da Amazônia, destacou que a descarbonização exige olhar para o nosso cotidiano e entender que mudanças como substituir chuveiros, veículos e fontes de energia envolvem custos e realidades distintas. “Não existe uma receita única. Cada setor, como a indústria, tem características próprias e trocar máquinas, combustíveis ou sistemas custa caro. Precisamos considerar as diferentes possibilidades e buscar um caminho justo e progressivo”, afirmou.
Carlos Neves, vice-presidente Sênior/COO de Bauxita & Alumina da Hydro, reforçou que as indústrias têm metas claras para reduzir suas emissões e precisam de coragem, planejamento e compromisso com o planeta. “A COP vai ser aqui, a gente tem um case muito importante junto com a FIEPA, demonstrando que nós somos capazes de contribuir, nós somos capazes de implementar, nós vamos buscar tecnologia e nós vamos continuar nossa. Trajetória de transição para uma energia de baixo carbono”, destacou.
Deryck Martins, Presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIEPA, apresentou a Jornada COP+, enfatizando o legado de sustentabilidade que o projeto pretende deixar. “O papel é muito importante nesse processo, porque a partir dele, muitas vezes a sua cadeia começa a funcionar. A partir da mudança você conseguir fazer com que a indústria diminua suas emissões, você vai passando para a sua cadeia de fornecedores.
O cenário de mudanças climáticas e o papel das COPs neste contexto também foram tema de painel, mediado pelo Diretor do Instituto Bem da Amazônia e Diretor do Amazônia Vox, Daniel Nardin. No painel, o professor do Instituto de Geociências da UFPA, que atua na Faculdade de Meteorologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA), Everaldo Souza, explicou tecnicamente como ocorrem as mudanças do clima. Ele expôs dados que mostram o aumento dos desastres naturais nas últimas décadas e que 86% dos municípios brasileiros já foram afetados. De acordo com o pesquisador, crianças e idosos são os mais vulneráveis. “O ser humano consegue imprimir o efeito no nosso planeta, em termos globais. Não somente de ocupar, de desmatar, de alterar a cobertura da superfície, mas também de alterar a componente da atmosfera, da troposfera”, explicou.
A Embaixadora pelo Clima da The Climate Reality Project Brazil e integrante da Rede Amazônidas pelo Clima, Pollyana Bernardes, explicou a linha do tempo das COPs e como o debate na conferência evoluiu ao longo dos anos. Sobre a COP 30, Pollyana destacou o forte multilateralismo que está sendo desenvolvido pela Presidência, focando em diálogos sobre possíveis reformas da Governança Climática Global; a inserção da Amazônia nos espaços de negociação e na agenda de ação, criando conexões entre a população e as conferências e os legados da COP para Amazônia. “É necessário que as pessoas que vão acompanhar as negociações saibam exatamente o que elas estão buscando. A estratégia nesse momento é basilar, pois essas reuniões acontecem a todo momento e às vezes elas acontecem ao mesmo tempo, então é importante que as pessoas saibam a trilha de negociações que querem seguir. Se relacionar com as comunidades locais vai ser essencial para essa COP e é algo que vai mudar as perspectivas de COP”, explicou.
A Assessora Técnica do PoMuC - Cooperação entre os governos do Brasil e da Alemanha no âmbito da Iniciativa Internacional para o Clima, Isabela Resende, destacou que apesar da COP ser o lugar onde os compromissos são firmados, são nos territórios que o impacto acontece, por isso o papel da comunicação é levar informação para o maior número de pessoas. “Os desafios da comunicação passam pelo combate à desinformação e negacionismo, o que enfraquece a cobertura climática. A cobertura precisa ser acessível, plural e feita para as pessoas que vivem essa realidade”, ressaltou.
Oficinas
A programação desta sexta-feira também inclui oficinas para os participantes presenciais. Os inscritos poderão escolher na hora qual oficina desejam fazer. Confira as oficinas disponíveis
1.Jornalismo de Soluções na pauta climática e planejamento de cobertura da COP
Facilitadores: Daniel Nardin (Solutions Journalism Network e Amazônia Vox), Ana Carolina Amaral (UOL/Climate Home) e Marcela Martins (Climate Tracker)
Resumo: A oficina será dividida em duas partes. Na primeira, uma apresentação sobre os quatro pilares do Jornalismo de Soluções e pautas possíveis com essa abordagem, com guias de cobertura. Na sequência, serão apresentados planos de cobertura de COP e exercícios para encontrar lides ao longo de duas semanas de negociação.
Perfil dos facilitadores: Daniel Nardin é jornalista e mestre em comunicação. Lidera o Amazônia Vox, é bolsista do International Center for Journalists (ICFJ), membro da Oxford Climate Journalism Network e instrutor da Solutions Journalism Network.
Ana Carolina Amaral é jornalista formada pela Unesp e mestra em Ciências pelo Schumacher College/Plymouth University. Cobre as COPs do Clima da ONU desde 2015, entre outras conferências da diplomacia ambiental. Foi repórter da Folha de S. Paulo, onde assinou o blog Ambiência nos últimos seis anos. Hoje escreve para o UOL e o Climate Home.
Marcela Martins é jornalista especializada na cobertura de clima e meio ambiente. É mentora e editora no Brasil para a Climate Tracker Latam. Possui dez anos de experiência como repórter e apresentadora de televisão e já publicou em diversos meios de comunicação, no Brasil e no exterior. É pós-graduada em Comunicação da Ciência pela Universidade Federal de Minas Gerais.
2. Geojornalismo: como investigar o desmatamento na prática
Facilitadoras: Larissa Amorim (Imazon) e Fernanda da Costa (Imazon)
Resumo: A oficina vai ensinar a investigar o desmatamento na prática, com auxílio de banco de dados públicos governamentais e da sociedade civil, utilizando a plataforma MapBiomas Alerta e a ferramenta de geoprocessamento QGIS, além de outras plataformas de dados como Cadastro Nacional de Florestas Públicas (CNFP), do Cadastro Ambiental Rural (CAR), do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) e das áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas).
Pré-requisitos: Levar notebook. Os participantes precisarão instalar o QGIS e as bases de dados. Mais informações no link.
Perfil das facilitadoras: Larissa Amorim é pesquisadora do Programa de Monitoramento da Amazônia do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) desde 2020, onde coordena o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). Engenheira florestal e mestre em Ciências Florestais (UFRA), Larissa também atua no desenvolvimento de novas ferramentas de Inteligência Artificial (IA) para o monitoramento da Amazônia e participa do programa MapBiomas Alerta, onde auxilia na auditoria dos dados de desmatamento na Amazônia para a geração de laudos técnicos públicos.
Fernanda da Costa é coordenadora de comunicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) desde 2021, onde faz a gestão das áreas de divulgação científica, assessoria de imprensa e relações públicas. Formada em Jornalismo e Letras (UPF) e especialista em Direitos Humanos (PUC-RS), atuou também como coordenadora de comunicação da Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos e como repórter e editora do jornal Zero Hora. Vencedora do Prêmio Nacional de Direitos Humanos de Jornalismo 2015, dos Prêmios de Jornalismo do Ministério Público do Rio Grande do Sul 2014 e 2015 e do Prêmio de Jornalismo da Associação dos Defensores Públicos do Rio Grande do Sul 2020.
3. Redes sociais e engajamento na pauta da emergência climática
Facilitadores: Tay Silva (@Pretay) e Paulo Galvão (@_paulogalvao)
Resumo: A oficina vai abordar como usar a comunicação como ferramenta na luta por justiça climática, partindo da realidade dos territórios tradicionais e periféricos da Amazônia. A proposta é construir narrativas que mobilizem ações, fortaleçam vozes periféricas e enfrentem a crise climática com um olhar comprometido com direitos e ancestralidade, tornando a pauta climática mais acessível e engajadora, conectando diferentes públicos à urgência da defesa dos territórios e da vida.
Perfil dos facilitadores: Tay Silva é educomunicadora, produtora cultural e ativista climática da Amazônia. Nascida e criada em Icoaraci, Belém do Pará, compartilha conteúdos em multiplataformas desde 2020 sobre temas ligados à política, luta antirracista, povos da floresta e justiça climática. Enxerga a comunicação e a cultura como ferramentas de transformação social e como um compromisso político, coletivo e ancestral em defesa dos territórios e comunidades amazônicas.
Paulo Galvão é natural da região do Baixo Tapajós em Santarém, no Pará, é ativista indígena, climático e socioambiental e estudante de Relações Internacionais - Unesp Franca. Trabalha com juventudes, meio ambiente, clima, povos e comunidades tradicionais, pautando a justiça climática, social e racial. Coordenador do Projeto sociocultural Vozes da Amazônia e Trabalha na área de Criança e Natureza no Instituto Alana.
4. Guia de ComunicAÇÃO Climática: desenterrando narrativas e traduzindo o clima
Facilitadora: Carolina Coelho (PoMuC/GIZ)
Resumo: A oficina vai explorar o Guia de Comunicação Climática por meio de uma leitura ativa e crítica, identificando os pontos fortes, lacunas e oportunidades de adaptação às realidades locais. Em seguida, será colocado em prática o desafio de traduzir o glossário climático em peças de comunicação acessíveis e direcionadas a públicos específicos, utilizando o Guia como principal ferramenta de apoio.
Perfil da facilitadora: Carolina Coelho é jornalista e assessora de comunicação do Programa Políticas sobre Mudança do Clima (PoMuC) da Cooperação Brasil - Alemanha. Atua em parceria com a Secretaria Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, colaborando na criação de produtos estratégicos de comunicação para a agenda climática, como o Guia de Bolso de Comunicação Climática e o Plano Clima, traduzindo termos e conceitos técnicos em narrativas adaptadas a diferentes públicos-alvo.
Realização
Realizada pelo Instituto Bem da Amazônia, a etapa presencial do Trilhas da Cobertura Climática tem o patrocínio da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) a partir da Jornada COP+, da Fundação Itaú, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), da Amazon Investor Coalition (AIC). O evento conta ainda com o patrocínio do Programa de Políticas sobre Mudança do Clima do Brasil (PoMuC), uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério Federal de Economia e Ação Climática da Alemanha (BMWK), no âmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI), e implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.
A programação também tem apoio institucional da Temple Comunicação, da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) e Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Quem não puder participar presencialmente, poderá acompanhar a transmissão ao vivo pelos canais do Instituto Bem da Amazônia e Canal da Industria do Pará.