Diretrizes para indústria de Baixo Carbono são destacadas durante Pré COP30 da CNI, em Brasília
- Mayra Leal
- há 22 horas
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Atualizado: há 2 horas

“Nós queremos a nossa gente dizendo sim às atividades econômicas que respeitam a lei, que cumprem com o papel ambiental, mas que têm, acima de tudo, compromissos socioeconômicos”. Foi com esta fala que o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) e da Jornada COP+, Alex Carvalho, apresentou o papel do setor privado para a agenda climática durante a Pré COP30 realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, nesta quarta-feira, 15.
Carvalho apresentou e entregou aos participantes o documento “Diretrizes para uma indústria de Baixo Carbono”, resultado do trabalho dos dez comitês temáticos da Jornada COP+ - movimento multissetorial por uma nova agenda econômica, social e ambiental na Amazônia brasileira, liderado pela FIEPA. “Com muito orgulho, me coloco como porta-voz de uma construção coletiva dessa grande caixa de ressonância de ideias vindas de tanta gente, mais de trinta setores envolvidos, e a Jornada COP+ cumprindo com o seu papel de construção de uma indústria de baixo carbono na Amazônia”, destacou o presidente da FIEPA que será o anfitrião do setor durante a Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em novembro, em Belém.
São dez principais recomendações, que giram em torno do uso sustentável da biomassa de resíduos como caroço de açaí e cascas de castanha; o fortalecimento da rastreabilidade das cadeias produtivas; a estruturação da economia circular no estado; a valorização da sociobioeconomia, o protagonismo de mulheres e povos tradicionais; a atração de investimentos verdes; maior infraestrutura regional e inclusão digital; e o fortalecimento da reputação da Amazônia. As diretrizes são a contribuição da indústria amazônica ao documento “Legados da Sustainable Business COP30”, iniciativa da CNI, que reúne propostas do setor produtivo.
A Pré COP30 da CNI recebeu representantes dos governos federal e estadual, CEOs de grandes empresas e especialistas em sustentabilidade. “O setor produtivo precisa ser cúmplice quando se fala em sustentabilidade, e por isso criamos a SBCOP. Nossa missão é mostrar o que a indústria está fazendo, que está comprometida. Estamos aqui para representar o ser humano que precisa estar inserido nesse processo. Queremos sim preservar, descarbonizar, mas queremos que isso seja em benefício do crescimento humano e de toda a sociedade”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Para Hailton Madureira de Almeida, Secretário-executivo do Ministério das Cidades, que representou o ministro Jader Filho no evento, implementar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável é fundamental e urgente. “87 % dos brasileiros vivem em cidades, e essas pessoas estão sofrendo os impactos das mudanças climáticas. Não haverá justiça climática sem justiça urbana. O governo já investiu, em Belém, R$ 4,7 bilhões em infraestrutura voltada à COP, que fica como legado para melhorar a vida da população. Estamos trabalhando para lançar na COP um fundo das cidades sustentáveis para apoiar os municípios pequenos e médios que queiram melhorar as condições das cidades nesse sentido. E não faremos nada sem o setor privado”, completou o Secretário.
CNI apresenta iniciativas selecionadas pela Sustainable Business COP (SB COP)

Selecionadas entre mais de 670 propostas, 48 iniciativas foram anunciadas na pré-COP da CNI. Elas incluem temas como a regeneração da Amazônia até cidades neutras em carbono. A coalizão global lançada pela Confederação para articular ações de sustentabilidade do setor privado e apoiar as negociações climáticas da ONU, selecionou casos de, pelo menos, 14 países, formando uma rede diversa que inclui Zâmbia, Paquistão, Colômbia e Índia. O Brasil se destaca nesse panorama de soluções verdes, com 19 cases. Dos 48 projetos, 38 têm uma nacionalidade específica, enquanto os demais 10 reúnem iniciativas com impacto em diferentes países.
A SB COP, que reúne quase 40 milhões de empresas de mais de 60 países, destaca que a América do Sul teve protagonismo: quase 60% dos cases enviados vieram de empresas do continente. Após um processo de avaliação conduzido por oito grupos de trabalho (GTs) temáticos, foram selecionadas 48 iniciativas de maior destaque.
Entre os casos destacados, a colaboração entre comunidades, investidores e compradores para regeneração das florestas no Pará; jovens se tornando especialistas em energias renováveis no Vietnã; e um bairro que foi construído para operar sem emissões de carbono, unindo qualidade de vida e sustentabilidade em Estocolmo.
Assim como a CNI, a FIEPA, com a Jornada COP+, também vai destacar cases de sucesso da indústria da Amazônia durante a COP30. O edital da Jornada COP+ foi destacado pelo presidente Alex Carvalho durante a Pré COP30, recebeu propostas de empresas industriais de todos os portes e segmentos. Cinco setores se destacaram nas inscrições: mineração, siderurgia, bebidas, agroindústria e setor florestal.
A programação da Pré COP30 da CNI contou ainda com painéis com temas como Economia Circular e Inovação como Estratégia Climática, Caminhos para uma bioeconomia inovadora, regenerativa e inclusiva, Papel dos Combustíveis do Futuro na Transição e Caminhos para uma bioeconomia inovadora, regenerativa e inclusiva.
O Gerente de Public Affairs e Sustentabilidade da Saint-Gobain, Douglas Farah, acompanhou os painéis e considerou uma chance de fortalecimento ainda maior da indústria. A empresa é patrocinadora Premium da Jornada COP+. “Nós temos um papel fundamental no plano de ações que vai ser implementado no Pós COP. E participar disso, integrado à Jornada COP+, da FIEPA, traz para a gente um sentimento de pertencimento dessa cadeia. É importante para nós, como organização, podermos compartilhar um pouco das nossas boas experiências e aprender com diversos outros parceiros nessa cadeia”, avaliou.
Para a Diretora de Relações Institucionais da Vale, correalizadora da Jornada COP+, o encontro foi um momento importante às vésperas do maior evento sobre mudanças climáticas do mundo. “Hoje a gente pôde ver alguns cases que as empresas trouxeram e apresentaram para a SB COP como soluções. Isso é uma grande contribuição, e não só esses 48 cases que foram selecionados, ou que fizeram parte dos painéis que foram apresentados. Tudo o que temos visto nesse percurso até a COP30 tem agregado muito e nos mostrado que vamos fazer bonito durante a conferência em Belém”, afirmou Ana Carolina Alves.
Estudo apresenta panorama sobre a infraestrutura na Região Norte

Durante o evento, a CNI também lançou o estudo "Panorama da Infraestrutura - Região Norte", que reúne informações sobre as áreas de transporte, energia, saneamento básico e telecomunicações, bem como as propostas para melhorias da infraestrutura nos sete estados do Norte do país.
O estudo revela que 74% dos empresários industriais consideram as condições de infraestrutura da região como regular, ruim ou péssima, enquanto a média nacional é de 45%. Este é o quarto de uma série de cinco estudos produzidos pela CNI com um retrato das condições de infraestrutura nas regiões brasileiras, identificando necessidades de investimento e pleitos do setor industrial.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, ressalta que a Região Norte desempenha papel estratégico no desenvolvimento sustentável do Brasil, sobretudo por conta de suas riquezas em biodiversidade e recursos naturais. No entanto, o déficit de infraestrutura tem restringido esse protagonismo. “As deficiências em rodovias, a baixa integração energética, os entraves no transporte hidroviário e as limitações no acesso a serviços essenciais impactam negativamente a qualidade de vida da população e elevam os custos logísticos, desestimulando os investimentos”, destaca Alban. “Fortalecer a infraestrutura da Região Norte, com respeito aos marcos legais e ambientais, é condição indispensável para a atração de investimentos e o crescimento do setor industrial”, acrescenta.
A Região Norte ocupa uma posição estratégica no contexto do desenvolvimento sustentável brasileiro, devido à sua vasta extensão territorial, elevada diversidade biológica e abundância de recursos naturais. Apesar desse conjunto de atributos, o persistente déficit de infraestrutura tem limitado significativamente a capacidade da região de exercer plenamente seu papel como vetor de crescimento econômico e inclusão social. “Precisamos colocar esse pingo de realidade a quem ainda queira entender a infraestrutura como um inimigo da Amazônia. O inimigo da Amazônia é a pobreza, é a falta de oportunidades. Há milhares de pessoas que residem na Amazônia e teriam o direito constitucional, como brasileiros, de condições iguais”, enfatizou o presidente da FIEPA, Alex Carvalho, que também participou do painel de lançamento do relatório.
De acordo com o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, a região historicamente sofre com problemas significativos no fornecimento de energia elétrica. Outro desafio crítico está no saneamento básico. Apenas 61% da população do Norte é atendida por rede de abastecimento de água, o menor índice entre todas as regiões brasileiras. A situação é ainda mais preocupante quando se observa a cobertura de esgotamento sanitário: somente 23% da população total da região conta com acesso a rede coletora de esgoto. Esses indicadores evidenciam um déficit estrutural que impacta diretamente a qualidade de vida da população, além de dificultar a atração de investimentos e a instalação de novos empreendimentos industriais.
A dotação autorizada para investimentos do Ministério dos Transportes e do Ministério de Portos e Aeroportos foi equivalente a R$ 13,7 bilhões em 2024. Deste montante, estava previsto R$ 3,6 bilhões para a Região Norte, sendo que R$ 3,8 bilhões efetivamente pagos (incluindo restos a pagar pagos).
Texto de Nara Bandeira.