Indústrias investem em sustentabilidade na sede da COP30
- Maria Luiza Martins
- 19 de set.
- 4 min de leitura

Responsável por 31,8% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e empregando diretamente 234 mil pessoas, a indústria paraense se firma como um dos motores econômicos mais potentes da região Norte. Mas, diante de um cenário global cada vez mais exigente em termos de responsabilidade socioambiental, o setor tem buscado transformar seu peso econômico em soluções concretas para o desenvolvimento sustentável.
A COP30 surge como um catalisador desse movimento. Com ela, chegam ao horizonte programas e políticas como a Jornada COP+, organizada pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e a Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal lançada em janeiro de 2024. Ambas têm em comum o objetivo de colocar a sustentabilidade e a inovação no centro das decisões e investimentos.
A NIB prevê R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026, por meio do Plano Mais Produção, e tem metas ambiciosas: reduzir em 30% as emissões de CO₂ por valor adicionado do PIB industrial e aumentar em 1% ao ano o uso sustentável da biodiversidade até 2033. A ideia é fazer da indústria nacional - e, no caso amazônico, da indústria paraense - um indutor de desenvolvimento socioambiental, valorizando recursos locais, gerando emprego qualificado e fortalecendo a bioeconomia.
“A indústria paraense gera muita riqueza, mas ainda precisamos transformar essa riqueza extrativista em melhoria real da qualidade de vida dos paraenses. A COP30 é uma oportunidade de superar gargalos e atrair novos negócios, agregando valor e garantindo que a riqueza gerada aqui permaneça no estado”, afirma Alex Carvalho, presidente da FIEPA.
Iniciativas que inspiram
Se a COP30 é o momento de mostrar resultados, algumas empresas já têm no currículo práticas sólidas que dialogam com a agenda climática e de desenvolvimento sustentável. Segmentos distintos, porém estratégicos, já despontam como exemplos de iniciativas que inspiram mudanças e respeito à diversidade social e ambiental da região amazônica.
Um desses exemplos é o Fundo Vale, braço estratégico da Vale que tem direcionado investimentos para a recuperação de áreas degradadas, proteção de florestas, fortalecimento de políticas públicas e estímulo a negócios sustentáveis na Amazônia.
Em 2024, foram 240 empreendimentos apoiados no Brasil, sendo 104 no Pará, beneficiando 18 mil pessoas em mais de 13 cadeias de valor. Entre as prioridades, estão produtos como cacau, açaí, pirarucu, castanha-do-pará, babaçu e óleos vegetais.
Desde 2019, a Vale mantém seis metas de sustentabilidade alinhadas à Agenda 2030 das Nações Unidas, incluindo a Meta Florestal de recuperar 100 mil hectares e proteger outros 400 mil até 2030. Metade já foi cumprida, com 200 mil hectares protegidos e 18.443 hectares de florestas restaurados entre 2020 e 2024.
“Promover a bioeconomia e o empreendedorismo é investir no futuro da Amazônia. Queremos conectar ciência e saberes tradicionais para gerar impacto positivo”, diz Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale.
Descarbonização na cadeia do alumínio

Com operações em Barcarena, a Norsk Hydro Brasil tem investido na redução de emissões e transição energética. Desde 2022, participa de um programa de R$ 12,6 bilhões voltado para a sustentabilidade em toda a cadeia do alumínio no Brasil, sendo R$ 2,16 bilhões destinados diretamente a tecnologias de descarbonização.
Entre os projetos, destacam-se a conversão de caldeiras e calcinadores para gás natural, com R$ 1,3 bilhão em investimentos, e a implantação de caldeiras elétricas abastecidas por energia renovável, que já recebeu R$ 360 milhões. A empresa também integra aportes de R$ 11 bilhões em geração de energia limpa para suas operações de bauxita, alumina e alumínio primário.
“Estamos focados em reduzir emissões e ampliar a participação de energia limpa em nossas operações, conectando inovação, eficiência e compromisso ambiental”, afirma Anderson Baranov, CEO da Norsk Hydro Brasil.
Sustentabilidade na produção do açaí

A Oakberry tem se consolidado como referência em sustentabilidade socioambiental na cadeia produtiva do açaí no Pará. A empresa atua além das certificações tradicionais, como Orgânico e Fair for Life, estruturando políticas para enfrentar desafios críticos da Amazônia, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e vulnerabilidades sociais.
O trabalho é desenvolvido em parceria direta com produtores, cooperativas e comunidades ribeirinhas das regiões do Baixo Tocantins e Marajó. Por meio de cadastramento, monitoramento e capacitação, a companhia garante rastreabilidade, manejo sustentável e valorização dos saberes tradicionais, fortalecendo a economia local.
Em dois anos, a iniciativa já beneficiou mais de 700 produtores organizados em 13 cooperativas, impactando positivamente cerca de 5 mil pessoas. Os resultados incluem 3.500 hectares de açaizais nativos sob manejo sustentável, mais de 200 pessoas capacitadas e toneladas de açaí certificado adquiridas com pagamento justo aos fornecedores.
Além do viés ambiental, a Oakberry atua no combate ao trabalho infantil e ao trabalho análogo à escravidão, por meio de parcerias com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Ministério do Trabalho e organizações sociais. A estratégia alia ciência, gestão e tradição, presentes no lema da empresa: produzir com respeito é proteger o território.
“Mais do que trabalhar apenas com açaí, a Oakberry trabalha com as pessoas que manejam e sobrevivem da floresta. Entender essa dinâmica e contribuir para o desenvolvimento socioambiental do território é essencial para o fortalecimento dos coletivos locais, como cooperativas e associações, e para garantir um açaí sustentável e de qualidade, adquirido de forma justa, com benefícios compartilhados ao longo de toda a cadeia produtiva”, destaca Juliana Oler, gerente de Sustentabilidade da Oakberry.







