Companhia Têxtil de Castanhal produz malva amazônica com responsabilidade social e ambiental
- Mayra Leal
- há 1 dia
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A corda do Círio de Nazaré, um dos principais símbolos da cultura e da fé paraenses, carrega consigo mais do que o significado religioso de devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Desde 2023, a confecção desse item é feita no Pará pela Companhia Têxtil de Castanhal. A empresa mantém o compromisso com a sustentabilidade e o desenvolvimento social, por meio de iniciativas como o Projeto Malva Amazônica. A iniciativa promove o cultivo responsável da malva, uma planta nativa da região, conhecida por suas fibras resistentes, utilizadas na produção de fios, tecidos e sacaria. Seu cultivo responsável contribui para a preservação ambiental e para o fortalecimento da economia local, gerando renda para pequenos produtores da região.
Com quase 60 anos de atuação na região, a Companhia Têxtil de Castanhal é a indústria mais verticalizada no ramo de fibras naturais do Brasil, uma vez que fomenta desde a produção de sementes de malva e juta, até a manufatura gerando os produtos acabados que compõem seu portólio. A empresa sediada em Castanhal, no interior do Pará, emprega cerca de 1.500 pessoas, e desempenha um papel relevante no apoio a famílias ribeirinhas em situação de vulnerabilidade no Pará e no Amazonas, onde possui uma filial no município de Manacapuru. Na região, a cultura da malva é uma tradição de grande impacto na economia local. De acordo com a empresa, em 2024, a atividade na cidade amazonense injetou cerca de R$ 22 milhões na economia, somente com a compra de fibra.
No Pará, o Projeto Malva Amazônica abrange municípios como Juruti, Óbidos e Alenquer, no oeste do estado, além de 200 famílias assistidas no nordeste paraense, voltadas a produção de sementes. No geral, a iniciativa beneficia aproximadamente 2.000 famílias, e até 2030 pretende alcançar 5.000. O projeto alia sustentabilidade e geração de renda, promovendo o cultivo responsável da malva, e garantindo uma fonte de sustento justa para os pequenos produtores, ao mesmo tempo que respeita o bioma amazônico. A iniciativa também ajuda a recuperar áreas degradadas exauridas por outras atividades produtivas no nordeste paraense, bem como, compõe uma paisagem produtiva nas várzeas do Rio Amazonas em perfeita harmonia com a floresta, mostrando como a bioeconomia pode ser um motor de transformação social e ambiental na região.
De acordo com a engenheira agrônoma e gerente do departamento de matéria-prima da Companhia Têxtil de Castanhal, Vivian Lameira, o projeto surgiu a partir de uma iniciativa voltada para a produção de fibras naturais de malva, com foco especial nas comunidades tradicionais. “O projeto foi estruturado para promover o desenvolvimento social e econômico dessas populações, alinhando-se aos princípios da sociobioeconomia. A maior parte dos participantes são agricultores familiares, em sua maioria de áreas ribeirinhas da Amazônia. Essas comunidades enfrentam uma realidade de vulnerabilidade social, e o projeto se propõe a trabalhar com elas, oferecendo oportunidades econômicas e educacionais”, afirma. Lameira também destaca que a cada ciclo produtivo, mais produtores são envolvidos. “Além das famílias que já recebem acompanhamento, realizamos o mapeamento de outras famílias que têm potencial para fazer parte do projeto”, explica.
Foto: Divulgação Companhia Têxtil de Castanhal
Além da geração de emprego e renda para as comunidades locais, o projeto também contribui para a preservação da floresta tropical. Com o apoio de instituições como a Embrapa, é oferecido suporte técnico especializado para que o cultivo de malva nos solos férteis irrigados seja sustentável. As fibras colhidas pela própria população, de forma artesanal, são transformadas em produtos ecológicos e biodegradáveis, aplicados em setores como agroindústria e indústria têxtil, o que inclui embalagens sustentáveis, sacarias e materiais inovadores para a indústria da moda, além da tradicional corda do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que, desde 2023, é confeccionada localmente com as fibras de malva fornecidas pela CTC, cultivadas em mais de 20 municípios paraenses. Essa iniciativa fortalece a bioeconomia, reduz a dependência de fibras sintéticas e impulsiona as economias locais.
Até 2030, a meta é cultivar 3.000 hectares de malva, com uma produção anual estimada entre 8.000 e 10.000 toneladas. Além do crescimento da área cultivada, os resultados também impactam a renda das comunidades. Todos os produtores já recebem 15% sobre o valor de referência da CONAB da fibra, e aqueles que praticam o comércio justo, atendendo a critérios como a não utilização de agrotóxicos, a proibição do trabalho infantil, e o respeito aos princípios ESG, recebem um adicional de 15%, totalizando 30%. Essa valorização é garantida pela certificação Fair Trade, que assegura condições comerciais mais justas.
Esse avanço é acompanhado, ainda, por um aumento significativo na produção de fibra. De acordo com dados recentes da CTC, entre 2023 e 2024, a produção cresceu 30%, contribuindo para elevar a oferta de fibras naturais no mercado. Atualmente, 40% da demanda da manufatura de fibra, é atendida pela produção nacional, enquanto 60% ainda depende de importações.

A meta da empresa é reduzir essa dependência externa e fortalecer a produção nacional. “Por conta da indisponibilidade de volume de safra nacional e para suprirmos a necessidade de manufatura da empresa, ainda precisamos fazer importação de fibra de Bangladesh. Por muito tempo nós precisamos trabalhar com o olhar voltado às importações, e é aí que entra o projeto, que surge como uma inversão. Como empresa voltada para a sustentabilidade, buscamos a valorização do que é nosso”, concluiu Vivian Lameira.
Por Jessie Peixoto e Mayra Leal.