Encontro pré COP30 posiciona o etanol e outros combustíveis como solução global para o clima
- Mayra Leal
- há 20 minutos
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A experiência brasileira com o etanol, as estratégias do setor para a COP30 e a participação do setor de biocombustíveis na transição energética foram destaque no evento “Etanol & COP30: Liderança Brasileira Energética Global”, realizado nesta sexta-feira, 3, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA). Promovido pela Bioenergia Brasil, FIEPA, Jornada COP+ e Sindicanálcool Bioenergia, o encontro reuniu especialistas, lideranças do setor e autoridades para debater os benefícios globais do etanol e sua relevância na transição energética global. A programação também contou com assinatura de termo de cooperação entre a FIEPA e o Governo do Pará e lançamento de carta com compromissos do setor para a agenda climática.
O país é reconhecido como referência internacional na produção e no uso sustentável do biocombustível. Alex Carvalho, presidente da FIEPA e da Jornada COP+, destacou que a bioenergia e outros segmentos produtivos são fundamentais para o futuro da região. “Esse segmento de bioenergia, e tantos outros que nós temos são parte de uma solução e de uma contribuição importante para o desenvolvimento do nosso país. Temos a clara percepção de que precisamos afugentar dois extremos: o do negacionismo que quer dilapidar a nossa biodiversidade e o do ativismo ambiental exacerbado, incapaz de abrir concessões para que haja a capacidade de se realizar na prática o desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Milton Campelo, presidente do Sindicato dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Maranhão e do Pará falou sobre o avanço do setor, enfatizando a estabilidade da oferta de biocombustíveis no mercado, em especial o etanol, que é considerado uma commodity global. “Precisamos colocar o Brasil na geopolítica mundial. Reunimos aqui diversas lideranças que vêm promovendo a evolução do setor, que é um dos objetivos da COP30”, afirmou.
O diretor de Inteligência Setorial da União da Indústria Cana-de-açúcar e Bioenergia (UNICA), Luciano Rodrigues, destacou as transformações no setor e a união entre as instituições para fortalecimento da cadeia, que começa no campo. “As bioenergias, como a energia solar captada no campo, o etanol, a bioeletricidade, o açúcar, o biogás e o biometano, evoluem aos poucos para combustíveis sustentáveis de aviação e para o biobunker, mas ainda temos um caminho a percorrer”, afirmou.
O presidente da Bioenergia Brasil, Mário Campos, ressaltou as inovações tecnológicas e a evolução do uso do etanol no país ao longo de um século de história. “O etanol completou 100 anos no Brasil e é uma política pública que tem escala de produção. Estamos celebrando 46 anos do lançamento do primeiro veículo a álcool e 22 anos do primeiro veículo flex no país. Essa evolução envolve máquinas agrícolas e caminhões”, contou.
Ele também destacou avanços recentes do setor no Brasil e a oportunidade que o país tem para ser um grande exportador de etanol. “Foi lançado um protótipo de gás com o uso de etanol para caminhões, que poderá ser aplicado em motores estacionários para produção de energia, além de servir como insumo para combustível sustentável e até combustível marítimo. Temos hoje um parque produtivo que tem aumentado sua capacidade de produção. A COP30 é uma grande oportunidade, porque nosso produto está ligado à transição energética e à busca por alternativas ao combustível fóssil”, afirmou Campos.
O evento também contou com a presença de autoridades políticas. Representando o parlamento, o deputado federal Arnaldo Jardim, destacou a liderança do Brasil em produção de celulose e como o protagonismo brasileiro no setor de biocombustíveis é uma solução eficaz para as mudanças climáticas. O deputado também destacou a importância do documento “Diretrizes para uma Indústria de Baixo Carbono”, elaborado pela Jornada COP+, movimento multissetorial realizado pela FIEPA e entregue na Semana do Clima de Nova York ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. “Essa é a música que nós vamos entoar na COP30, demonstrar que o Brasil é vanguarda, líder da nova economia de baixo carbono”, ressaltou ao se referir ao relatório.
O governo do Pará foi representado pelo Secretário de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará, Paulo Bengtson. O secretário destacou a importância de novos olhares sobre a Amazônia, o potencial da região e a importância das indústrias para a geração de emprego e renda. “A Amazônia está no centro do debate mundial. Que bom que está ocorrendo esse debate para desmistificar ideias que se têm sobre a Amazônia”, pontuou.
Termo de cooperação
Durante a programação, o secretário assinou Termo de Cooperação Técnica com a FIEPA para a elaboração do Atlas da Energia Elétrica. Entrega da Jornada COP+, o plano de trabalho quer fortalecer o setor energético paraense, a partir da cooperação institucional entre Governo do Pará e Federação das Indústrias. “Trabalhar com a ciência de dados, com o conhecimento é fundamental para as políticas públicas e construção dinâmica e coletiva de um desenvolvimento sustentável”, destacou Alex Carvalho durante a assinatura.
Painéis discutiram dados e estratégias
Discutindo a experiência brasileira com etanol, representantes do setor automotivo como João Irineu, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis pela América do Sul - grupo formado pela fusão da Fiat Chrysler Automobiles e do Grupo PSA, Peugeot e Citroën - ; e o diretor de assuntos regulatórios e governamentais da Toyota, Rafael Ceconelo, relataram a importância do etanol para cadeia do setor automotivo. O painel expôs a liderança brasileira, como referência mundial em frota de veículos em circulação que utilizam o etanol e como o setor pode ser uma oportunidade para a descarbonização. O debate evidenciou a necessidade de mostrar ao mundo o potencial dos combustíveis renováveis como uma solução de baixo custo e que traz benefício para todos.
Alexandre Zebulun, diretor comercial da Evolua Etanol, apresentou dados que evidenciam o Brasil como referência no setor, como geração de divisas e produção de riquezas. De acordo com os dados apresentados, o etanol gera 40 bilhões de dólares de PIB, sendo responsável por 2% do PIB brasileiro. O especialista também destacou como o fortalecimento desse mercado contribui na redução da descarbonização e da importação da gasolina. O debate foi mediado pelo diretor de Relações Institucionais da Copersucar, Henrique Mendes.
Em painel sobre as estratégias para a COP30, pesquisadores e especialistas discutiram o contexto geopolítico para o debate climático e qual deve ser o papel do setor de biocombustíveis do Brasil. O debate foi mediado pelo deputado federal Arnaldo Jardim.
A pesquisadora sênior da Agroicone, Luciane Chiodi, destacou a união do setor de etanol e o fortalecimento de diferentes fontes de produção do biocombustível. “É preciso mostrar que existem no país fontes complementares e a COP aqui no Brasil é um momento importante para reafirmar o papel do país na transição energética como líder”. Ela ainda abordou a possibilidade do uso de áreas de pastagem degradadas para essa produção. “Podemos expandir a oferta sem gerar desmatamento e sem comprometer os usos para outros setores, como exportação ou alimentação humana e animal. A indústria do etanol gera renda e emprego e, com isso, em vez de impactar negativamente, produzimos um impacto positivo”, refletiu.
Doutor em economia e consultor da FIEPA para a COP30, Mário Ramos Ribeiro, refletiu que para a conferência na Amazônia, o setor produtivo precisa se posicionar para a implementação de apoio financeiro aos países em desenvolvimento por parte dos países desenvolvidos; a capacidade desses países em implementar ações eficazes de mudança climática e a necessidade de financiamento climático. O debate também contou com o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes; e o diretor de Inteligência Setorial da UNICA, Luciano Rodrigues.
Reunindo representantes do setor privado, o último painel do encontro discutiu o papel das empresas na transição energética. O debate mediado pelo presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil, Paulo Leal; contou com a contribuição de João Pedro Pacheco, head de Relações Institucionais, Regulatório e Jurídico Ambiental da Atvos; Andres Guevara de La Vega, presidente da BP Bioenergy; Bertholdino Junior, gerente corporativo de sustentabilidade da Usina Coruripe; e Rubiane Jacobowsky, coordenadora corporativa de sustentabilidade na FS Fueling Sustainability.
Jacobowsky destacou que os debates do setor precisam ultrapassar as fronteiras da própria indústria e estar alinhados às metas internacionais de clima. “Ao falar de bioenergia com captura de CO₂, tratamos de tecnologias essenciais para a descarbonização e para o cumprimento das diretrizes do Acordo de Paris, alcançando a meta de neutralidade de emissões até 2050 e limitando o aquecimento global bem abaixo de 2°C. Mas só a descarbonização não será suficiente. É necessário investir em tecnologias de captura e armazenamento de carbono”, ressaltou.
Carta Belém
Ao final do evento, as entidades organizadoras do encontro apresentaram a Carta Belém, documento que reafirma o etanol como parte essencial da solução climática global e o compromisso do setor para uma transição energética justa.