Jornada COP+ deixa legado da indústria paraense para a Amazônia
- Maria Luiza Martins
- 22 de set.
- 5 min de leitura
Atualizado: 16 de out.

Movimento pela transição justa na Amazônia brasileira, a Jornada COP+, realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), não leva o “mais” em seu nome à toa. Mesmo tendo como escopo a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém, a COP30, a iniciativa multissetorial vai além do evento. A partir do trabalho realizado em seus comitês e programas, a Jornada está deixando legados para a região com diversas ações efetivas e duradouras lideradas pelo setor produtivo.
Programa pelo Combate ao Desmatamento e Queimadas Ilegais
Omovimento estabelece compromissos contra as ilegalidades que destroem o meio ambiente e atrapalham o desenvolvimento da região. A ação, liderada pelo setor privado, indústrias e agroindústrias paraenses, inicia neste ano e vai até 2030. “Vamos identificar dentro das regiões do Pará onde existem atividades de pecuária, agricultura, manejo florestal, mineração, palma e tantos outros setores, para envolver essas lideranças que estão na ponta do processo e para que a gente consiga ter os resultados esperados”, explica Deryck Martins, coordenador técnico da Jornada COP+.
Componentes do Programa de Combate ao Desmatamento e Queimadas Ilegais:
Diagnóstico: entender os problemas e os prejuízos ao setor empresarial
Engajamento: envolver empresas, poder público e cidadãos nas ações
Ação direta: identificação e reporte dos focos de desmatamento e queimadas ilegais
Os primeiros setores engajados são os de carne, madeira e grãos. Até o final deste ano, será entregue uma carta compromisso assinada pelos setores que aderirem ao programa, com metas de combate às ilegalidades para os próximos três anos. A iniciativa também procura estimular práticas produtivas sustentáveis, com uso de tecnologia, gestão eficiente e governança responsável, com ações de ESG no entorno de grandes empreendimentos, capacitação de pequenos produtores e apoio às brigadas de incêndio.
“Estamos enfrentando o fato de que o desmatamento ilegal destrói a floresta, polui os rios e corrói a reputação da Amazônia com impactos econômicos e geopolíticos profundos. Nós, da indústria, reafirmamos nosso compromisso de integrar essa força-tarefa de zerar o desmatamento ilegal até 2030, com ações coordenadas, ampla mobilização social e engajamento de todos os setores econômicos.”
- Alex Carvalho, presidente da FIEPA e da Jornada COP+.
Economia circular

Entre os legados da Jornada COP+ também está a criação do Programa de Economia Circular da FIEPA. A iniciativa será permanente e pretende atuar junto ao poder público na formulação de políticas voltadas à logística reversa e gestão de resíduos sólidos, com foco no setor produtivo. A economia circular é o tema oficial da COP30.
O Programa prevê o mapeamento e divulgação de boas práticas do setor industrial, ações de capacitação e letramento, além da oferta de soluções de circularidade para a indústria. “Mostrar o que está dando certo é uma forma de valorizar e divulgar essas iniciativas, mas também de atrair e engajar outras indústrias. Vamos trazer informações e inovações da área de economia circular para que as indústrias possam aplicar a economia circular em seus negócios”, explica Deryck Martins.
A Jornada COP+ também pretende contribuir para a construção de uma política pública estadual de economia circular, alinhada à legislação federal. “O legado que deixaremos para a indústria da Amazônia é a estruturação de um ecossistema mais conectado com empresas, governo, academia e sociedade civil unindo forças para gerar inovação, ampliar a rastreabilidade e transformar resíduos em oportunidades de novos mercados”, destaca a empresária Priscilla Vieira, líder do comitê de economia circular.
Sociobioeconomia

Em parceria com o Instituto Bem da Amazônia e o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), a Jornada COP+ também realiza o Programa de Sociobioeconomia, para contribuir diretamente com o planejamento de políticas mais eficazes à economia, que preserva a floresta em pé e valoriza os povos da Amazônia.
O Programa também tem como propósito o diagnóstico da produção industrial e de empregos dessa cadeia, realizando estudo aprofundado sobre o setor produtivo da bioeconomia, seus impactos na geração de emprego e suas tendências. O objetivo é basear decisões estratégicas e identificar oportunidades de negócio. Entre as iniciativas, está a criação de uma plataforma digital georreferenciada para mapear cadeias produtivas de valor, que reunirá de forma integrada cadastro de produtores, indústrias e agroindústrias.
Também serão gerados relatórios técnicos sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais da sociobioeconomia. A ideia é que eles possam basear decisões mais responsáveis e informadas por parte de gestores públicos e privados. O programa também conta com o Observatório da Bioeconomia, que será uma estrutura de monitoramento e análise estratégica para orientar políticas públicas, decisões de investimento e fomentar a transparência no setor.
O trabalho utiliza a metodologia desenvolvida pelo professor Francisco de Assis Costa, do NAEA/UFPA. Membro do programa de sociobioeconomia da Jornada, o professor e pesquisador do NAEA, Danilo Araújo Fernandes explica que o método parte da realidade local para calcular indicadores como o PIB da bioeconomia, geração de empregos, remuneração, distribuição de renda e valor agregado por cadeias produtivas como a do açaí, da castanha-do-pará e do cacau. “São métricas e um conjunto de atores que não aparecem nas estatísticas. Precisamos considerar que a bioeconomia específica da Amazônia é diferente da bioeconomia do resto do mundo”, afirma.
O programa também pretende gerar um Plano de Desenvolvimento da Indústria projetado para uma economia do futuro. Segundo o professor, a parceria com a FIEPA parte da compreensão da importância de uma frente pela bioeconomia. “A gente precisa mais do que uma transição, a gente precisa do desenvolvimento de uma indústria que aproveite o potencial dessa economia do futuro que leva em consideração o papel da biodiversidade”, conclui.
Indústria de baixo carbono

Para basear e inspirar ações mais sustentáveis na indústria, a Jornada COP+ também deixa como legado documentos norteadores. Entre eles o “Manual de Descarbonização para a Indústria da Amazônia”, um guia voltado para pequenas e médias empresas que orienta sobre boas práticas de sustentabilidade, com foco na descarbonização, valorização da sociobioeconomia e combate às ilegalidades. A publicação também reúne cases inspiradores do setor produtivo da região.
Construído coletivamente, outro fruto da Jornada é o documento “Diretrizes para uma Indústria de Baixo Carbono”, que consolida as proposições para uma transição justa na Amazônia brasileira, formuladas a partir de discussões realizadas por especialistas em dez grupos de trabalho: Comunicação e Advocacy; Infraestrutura e Logística; Atração de Investimento; Economia de Baixo Carbono; Mulheres e Povos Tradicionais; Sociobioeconomia; Economia Circular; Transformação Digital e Inovação; Transição Energética; e Rastreabilidades das Cadeias de Valor.
O documento é resultado de reuniões que contaram com 180 participantes e lideradas por 11 especialistas relacionados aos temas dos grupos de trabalho. “Conseguimos direcionar o olhar multidisciplinar para as causas centrais dos principais problemas para promover uma economia de baixo carbono e elaboramos um planejamento de curto, médio e longo prazos. Com isso, é possível alavancar uma economia de baixo carbono na região”, afirma Leonardo Albiero Almeida, engenheiro florestal, coordenador de projetos de carbono da Ambipar Carbon Solutions e um dos especialistas que atuou na formulação do documento.
Texto de Mayra Leal.







