Reaproveitamento pela sustentabilidade: conheça projeto da Tramontina Belém que transforma resíduos em utensílios
- Mayra Leal
- 5 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de out.
Na Amazônia, onde a madeira é um dos recursos naturais mais valiosos, a Tramontina Belém mostra que é possível produzir com respeito, consciência e criatividade. A unidade, localizada na capital paraense, se dedica a transformar o que seria descartado em produtos de alto valor, unindo tradição e inovação a um compromisso concreto com a sustentabilidade.
O que para muitas indústrias é considerado sobra, para a Tramontina é matéria-prima. A empresa utiliza brancal de madeiras como o jatobá e a teca. O brancal é uma parte da madeira geralmente rejeitada por não atender aos padrões comerciais convencionais. Na fábrica localizada em Icoaraci, distrito de Belém, o material é cuidadosamente selecionado e reaproveitado. O que antes era resíduo é transformado em utensílios como tábuas de corte e suportes para facas, que se destacam pela resistência e beleza natural.
A escassez de madeira certificada e a dificuldade em adquirir madeiras específicas em grande escala no Pará exigiram da Tramontina Belém criatividade e planejamento. Antonio Pagliari, diretor administrativo-financeiro da empresa, explica os desafios enfrentados pela unidade ao buscar alternativas sustentáveis para a produção. “Ao mesmo tempo, enfrentávamos dificuldade para comprar teca em volume suficiente, pois no Pará havia apenas um projeto certificado, e agora há dois. Por outro lado, desenvolvemos, desde 2014, uma rede com dez fornecedores de madeira nativa muito confiáveis no estado. Investimos na certificação deles e na aquisição de equipamentos para industrializar painéis com madeira brancal”, conta. Segundo o diretor, o que era um desafio agora é um produto rentável e ecológico. “O projeto deu certo, hoje 60% das tábuas vendidas são feitas com painéis nativos reaproveitados”, conclui.
Antes de entrarem na linha de produção, as peças passam por uma triagem rigorosa. Todo o processo é pensado para gerar o mínimo de resíduos e o máximo de aproveitamento, dentro de um modelo de economia circular que reduz impactos ambientais. A unidade é certificada com o selo internacional FSC ® (Forest Stewardship Council ®), que garante que toda a madeira utilizada provém de florestas manejadas de forma responsável — com respeito ao meio ambiente, às comunidades locais e à sustentabilidade econômica da cadeia produtiva.
Pagliari destaca os desafios técnicos enfrentados na implementação da nova linha. “O principal obstáculo foi adaptar os processos, ferramentas e equipamentos para o acabamento do brancal, que tem densidade diferente do cerne”, explica. Segundo ele, além da qualidade, o custo-benefício para o consumidor também é um diferencial. “A cultura da Tramontina preza por qualidade e preços competitivos. Ao desenvolver produtos com menor custo e manter o padrão de excelência, conseguimos ampliar o mercado, especialmente em segmentos sensíveis a preço e que demandam grandes volumes, geralmente atrelados a campanhas promocionais”, destaca.
Além da consciência ambiental, a inovação é um dos pilares da atuação em Belém. A unidade abriga um centro de pesquisa e desenvolvimento dedicado a buscar novas formas de reutilizar a madeira e otimizar processos, sempre com foco na funcionalidade e qualidade dos produtos. Fundado em 2013, o CIPED (Centro de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento) é um exemplo desse compromisso. Pagliari reforça o papel estratégico do centro de inovação da unidade. “A fábrica de Belém, assim como as demais do grupo, tem alta credibilidade junto à Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Já aprovamos dois projetos de inovação aqui no Pará, envolvendo design, processos e o uso criativo da madeira combinada com plástico para a produção de móveis”.
Além dos projetos já em execução, a empresa tem ampliado as iniciativas de sustentabilidade e valorização da matéria-prima natural. “Estamos elaborando mais dois projetos: um voltado para o uso de óleos regionais no acabamento de tábuas de servir, e outro para o desenvolvimento de uma nova linha de móveis dobráveis. Também instalamos equipamentos de testes que nem outras instituições do estado possuem, o que nos permite certificar nossos produtos em tempo recorde”, conclui o diretor.
Por Nicole Oliveira, sob supervisão de Mayra Leal.



















