Bioindústrias da Amazônia desenvolvem cosméticos com insumos da floresta
- Maria Luiza Martins
- 2 days ago
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Em meio à biodiversidade da floresta amazônica, com seus óleos essenciais, extratos de plantas raras e uma infinidade de matérias-primas consideradas exóticas no mercado internacional, o Pará tem se consolidado como um cenário promissor para o setor de cosméticos e cuidados pessoais, com amplas possibilidades para a criação de produtos exclusivos, sustentáveis e de alta qualidade.
Atentas a esse mercado em expansão, as empresas paraenses têm se mobilizado para que o Estado se torne um hub da indústria da beleza, buscando soluções para o fortalecimento do setor, valorização da sociobioeconomia da Amazônia e novas oportunidades para empreendedores e investidores. Nesse contexto, foi criado o Amazônia na Pele, iniciativa do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos, Petroquímicos, Farmacêuticos, Perfumaria e Artigos de Toucador do Estado do Pará (Sinquifarma), filiado à Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), voltada à divulgação e promoção de empresas locais que utilizam a biodiversidade amazônica na produção de cosméticos e fitoterápicos, nas áreas de saúde, beleza e bem-estar.
Segundo a empresária Fátima Chamma, vice-presidente do Sinquifarma e coordenadora do projeto, o Amazônia na Pele funciona como um grande guarda-chuva que abriga tanto empresas filiadas ao sindicato quanto outros negócios locais do setor que necessitam de apoio. “A indústria da beleza exige muitos esforços em pesquisa e inovação para se desenvolver e se manter competitiva. No Brasil, é uma indústria bem dinâmica, que oferece produtos premium e de eficácia comprovada. Aqui, no Pará, temos também esse potencial, mas as empresas do setor ainda são muito pequenas e, apesar das possibilidades infinitas, enfrentamos muitas dificuldades, como o alto custo da logística e da produção de embalagens, só para citar algumas”, pondera.

As empresas vinculadas ao projeto são responsáveis por um amplo mix de produtos, entre os quais estão aromatizadores de ambientes, sabonetes, xampus, hidratantes, óleos corporais, óleos naturais, esfoliantes e cremes de massagem, fabricados a partir de matérias-primas como andiroba, copaíba, cupuaçu, açaí, castanha-do-pará, jambu e pracaxi, entre outros ingredientes nativos da Amazônia. “A partir dessa organização em grupo, queremos verticalizar e gerar maior valor aos produtos da nossa indústria local. Para isso, estamos trabalhando questões como certificações e licenças nacionais e internacionais, para que as empresas daqui consigam, a partir desse ‘selo Amazônia’, mais projeção com produtos que, além de exóticos, sejam reconhecidos também pela segurança, qualidade e rastreabilidade socioambiental, tão importantes nesse segmento.”
“A indústria de cosméticos do Pará atua com muito respeito às comunidades extrativistas da região, porque entendemos que nosso negócio precisa da floresta em pé. Para isso, precisamos ajudar e proteger as pessoas e as matérias-primas dessa floresta.”
— Fátima Chamma, vice-presidente do Sinquifarma
Aprimoramento do setor
Para fortalecer as indústrias do setor, o Amazônia na Pele contou com o apoio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL/PA) na revisão de seu planejamento estratégico. O trabalho resultou em recomendações e soluções voltadas ao aprimoramento empresarial, para garantir que as indústrias locais estejam preparadas para aproveitar as oportunidades que devem surgir a partir de eventos globais, como a COP30, e tenham mais competitividade nos mercados interno e externo.
De acordo com o consultor do IEL, Ederaldo Ribeiro, o planejamento foi elaborado em conjunto com empresas e outros atores da cadeia produtiva local, e servirá como guia para que o setor alinhe sua atuação às tendências globais de consumo de produtos naturais e sustentáveis. “Esse alinhamento envolve tanto as empresas do ramo quanto segmentos complementares, governos, centros de pesquisa, academia e entidades de apoio como o IEL, FIEPA, SENAR e Sebrae. Afinal, quando a gente pensa em ampliar mercado, crescer, exportar, é necessário ter diversos setores estratégicos trabalhando de forma convergente para alcançarmos resultados duradouros a médio e longo prazos”, explica Ribeiro, economista com foco em diagnóstico, planejamento, governança e mercado.
O planejamento destacou a importância de práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva, desde a coleta das matérias-primas até a distribuição dos produtos, garantindo que cada etapa esteja em conformidade com os princípios da responsabilidade social e ambiental. “A integração das empresas com esses stakeholders cria um ambiente propício para a inovação e o compartilhamento de conhecimento. Isso resulta em produtos mais competitivos no mercado global, capazes de atrair consumidores cada vez mais conscientes e exigentes”, avalia.
“O nosso principal objetivo com esse planejamento estratégico é ajudar no crescimento das empresas participantes do projeto e apoiar o trabalho dos pequenos. Quando olho a bioeconomia, penso que ela precisa vir junto com o desenvolvimento e a melhoria de vida da população. Para isso, é preciso analisar a situação, identificar as dificuldades de cada empresa e estabelecer prioridades para tentar sanar esses problemas. Temos produtos excelentes, com grande potencial para gerar emprego, renda e uma economia justa ao longo de toda essa cadeia”, reforça Fátima Chamma.
Ações estruturadas
Como resultado desse trabalho, o grupo decidiu criar uma associação para viabilizar a captação de recursos, participação em feiras e eventos, além de atender demandas específicas das empresas. “A maioria já possui marcas registradas, cumpre as exigências legais, com registros como FDA e cadastro no Ministério do Turismo, e algumas já exportam. Porém, o objetivo é avançar de forma estruturada, entendendo o estágio de cada negócio, os mercados prioritários e garantindo compradores permanentes, evitando que nossos produtos sejam vistos apenas como itens turísticos”, explica Fátima.
Com uma loja na sede da FIEPA, em Belém, o grupo pretende ampliar para outros pontos de venda, criar uma central de produção certificada e estabelecer compras conjuntas, reduzindo custos com terceirização, fretes e aquisição de insumos industriais, como embalagens, que chegam a custar até 50% mais caro do que no Sul e Sudeste do país, comprometendo a competitividade dos negócios locais.
Além disso, a partir da revisão do planejamento estratégico, foi identificada a necessidade de superar desafios em ESG. “Para micros e pequenas empresas, é mais difícil implantar práticas de responsabilidade social, ambiental e de governança no mesmo nível das grandes companhias. Ainda assim, trabalhamos com cadeias produtivas ambientalmente corretas e temos registros da Anvisa. O problema maior está na burocracia, que exige tempo e recursos que poderiam ser destinados à inovação e produção. Por isso, buscamos fortalecer nossa atuação com o apoio do sindicato e da Federação das Indústrias, além do IEL, SESI e SENAI. Essa rede de apoio nos dá segurança e garante continuidade ao trabalho”, avaliou a empresária.
Exportações do Pará - Produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria
No primeiro semestre de 2025, o Pará exportou US$ 1.596 milhão
767,01 toneladas exportadas
Principais produtos: sabões em barra, óleos, bálsamos naturais e preparações capilares
Principais mercados: Paraguai, Venezuela, Espanha, China, Canadá, Países Baixos, Alemanha, Estados Unidos, Guiana Francesa, Ilhas Marshall e Rússia
Ranking nacional - o Pará está entre os nove principais exportadores do país